segunda-feira, 9 de março de 2009

Feminismo

Feminismo! É ainda em Portugal uma palavra de que os homens se riem ou se indignam e de que a maioria das próprias mulheres coram, coitadas, como de falta grave cometida por algumas colegas […] E, no entanto, nada mais justo, nada mais razoável, do que este caminhar seguro, embora lento, do espírito feminino para a sua autonomia. […]

As mulheres conservam-se, entre nós, numa indiferença quase total pelas conquistas que dia a dia vão marcando esse avanço... Mas esperemos serenamente porque à mulher portuguesa há-de chegar também a sua vez de compreender que só no trabalho pode encontrar a sua carta de alforria. […] E desde que se torne independente pelo seu próprio esforço, desde que saiba angariar o pão que come, a casa que habita, os vestidos que veste, sem estar à espera do homem, fonte de todo o dinheiro que hoje a sustenta – seja como pai, como marido ou irmão – a sua alforria está decretada. Uma vez será um artigo do código que se modifica; amanhã um preconceito que cai em desuso; depois um hábito que se vence; até que obrigações e direitos se igualem entre as duas metades do género humano […].

Ser feminista não é querer as mulheres insexuais, masculinas, de caricatura, como alguns julgam; mas sim desejá-las criaturas de inteligência e de razão, educadas útil e praticamente de modo a verem-se ao abrigo de qualquer dependência, sempre amarfanhante para a dignidade humana.

Ana de Castro Osório Às mulheres portuguesas (1905)

Sem comentários: